quinta-feira, 30 de junho de 2016

6. Catherine

Acordei de manhã com um monte de mechas loiras no rosto; me afastei de James arrumando seus cabelos e me lembrando de onde estava. O observei um momento, será que era sensato entrar de cabeça naquele relacionamento sem saber o que poderia encontrar? Tudo que sabia sobre DID era o que tinha aprendido em filmes e coisas do gênero e isso podia ser considerado nada, mas estava intrigada com ele e... me sentindo tão apaixonada. Então decidi que ascenderia a luz daquele quarto mal iluminado, porque poderia haver algum arrependimento depois, mas nunca o de tê-lo deixado para trás.
Conferi sua temperatura com a testa, não estava mais tão quente, a febre já devia ter passado. Sai da cama com cuidado para não acorda-lo e fui até minha bolsa procurando pelo celular, o encontrei sob as roupas. Assim que verifiquei a hora o sangue esfriou, 8h12, estava muito atrasada para o trabalho. Fui para fora do quarto e me sentei no chão me encostando em uma parede distante e ligando para Angela.
– Bom dia, Srta. Foster, atrasada novamente? – disse ela ao atender.
– Angela, me desculpe, eu perdi a hora, estou na casa de James e o celular estava na bolsa.
– Já está frequentando a casa do sr. Hasckel, Srta. Foster? – ouvi o sorriso em sua voz.
Eu havia contado a Angela sobre eu e James e ela tinha rotulado nosso relacionamento como ironia do destino. Não tinha falado sobre o problema dele, é claro, mas mais porque ele tinha me pedido que não contasse do que por qualquer falta de confiança.
– Ele está doente, ok? – disse segurando um sorriso. – Bem, vou chegar tarde hoje, ainda não saí daqui.
– Não se incomode, Srta. Foster, estamos em baixa temporada e não há nada que necessite sua atenção, afinal a suit master do Sr. Hasckel já foi terminada.
Pensei um momento na proposta.
– Eu sei, mas...
– Ele está doente, não está?
– Sim.
– Então nos vemos amanhã.
– Me ligue se algo acontecer.
– Claro, claro – e desligou.
Olhei o celular, chocada, depois fechei a boca, como se não estivesse adorando a ideia, Catherine.
Me levantei e fui para cozinha preparar o café, James só tinha coisas empacotadas e fáceis de comer, revirei os olhos, homens. Preparei um suco de com morangos que encontrei no fundo da geladeira e comi panquecas. Quando terminei, James ainda dormia, então fui dar uma volta na casa. A porta da frente dava na enorme sala principal, a sala do piano, que tinha largos sofás e poltronas cor de café e um felpudo tapete cinza que cobria a maior parte do chão; ao lado da sala estava a cozinha aberta, com uma ilha no meio equipada com o fogão; mais para o fundo estavam o quarto – que não tinha porta –, o closet e o banheiro, então duas escadas nas quais uma levava para a garagem no subsolo e outra para o jardim dos fundos.
Voltando do jardim, me lembrei do que James tinha murmurado na noite passada, "Lyn", e Eric havia falado algo sobre salvar alguém, talvez ele tivesse visto alguém morrer ainda muito novo e isso devia ter desencadeado o DID. Fui até o quarto e peguei meu pequeno caderno de aros voltando para sala do piano e me sentando numa das poltronas. Tinha começado a anotar tudo sobre James desde que conhecera Jasper, porque foi uma das experiências mais esquisitas da minha vida e sentia a necessidade de registrar tudo.
Não sei exatamente por quanto tempo escrevi, mas estava passando a caneta várias vezes sobre a interrogação escrita logo depois do nome Lyn distraída com possíveis teorias sobre aquela pessoa, quando uma movimentação logo ao meu lado me fez levantar os olhos. James se aproximava silencioso olhando para o caderno em minhas mãos.
– Ohh, bom dia – me levantei fechando o caderno e o deixando em cima da poltrona, lhe dando um beijo nos lábios. – Está melhor?
– Melhor – respondeu completamente rouco. – A garganta dói um pouco.
– Hmm – enruguei os lábios. – Talvez devesse te dar um xarope. Venha, eu fiz o café – e o levei para cozinha.
Ele me seguiu e quando chegamos a cozinha, deu um meio sorriso pegando o telefone da parede e discando um número.
– Para quem vai ligar? – indaguei.
– Alô? – disse quando atenderam. – Poderia programar duas passagens pra Noruega na primeira classe? – então abaixou o telefone para falar comigo. – Que dia é melhor para você?
Sorri.
– Sexta.
– Sexta feira de manhã.
Então ele concluiu a ligação e se sentou em um dos bancos da ilha.
– O que vai querer? Temos suco, leite...
Ele fez uma careta indicando a garganta com o indicador.
– Quer chocolate quente, então? – curvei as sobrancelhas para cima. – Apesar de ser cremoso. O que quer comer?
Ele suspirou tristonho, então a porta principal se abriu e uma mulher loira entrou com uma sacola.
– Jem, trouxe algumas acerolas para fazer um suco e você vai ter que tomar... – disse ela se aproximando distraída olhando as sacolas. – Ah, eu também trouxe... – então parou na porta da cozinha nos observando e erguendo as sobrancelhas.
Fiquei em silêncio um segundo ainda apoiada na ilha sem reação, aquilo era meio invasivo, não? Mas aquela mulher tinha traços parecidos com os de James então deveria ser uma parente próxima, quebrei o silêncio que começava a ficar constrangedor.
– Ahh, oi. Sou Catherine Foster – e fui até ela entendendo a mão.
– Ah, Catherine Foster... – disse colocando as sacolas na beira do balcão sem ver e James teve de segura-las para não caírem no chão, apertou minha mão. – Alena Hasckel.
– É um prazer, Srta. Hasckel – e olhei para ele levantando as sobrancelhas.
– Você é a... – começou ela.
– Cath, essa é a minha irmã... – mas ele se interrompeu.
Alena se virou para ele, chocada.
– Meu deus, James! O que houve com a sua voz? – disse agarrando o rosto dele e então conferiu a testa. – Não está quente...
– Ele estava com febre ontem, mas... – me interrompi. Mal a conhecia e já estava lhe contando que passei a noite na casa de seu irmão, que ótima impressão, Cath. – Mas melhorou – concluí hesitante.
– Alena, essa é a garota que eu te falei.
– Ah – fez. – Foster... Por que seu nome me soa familiar?
– Sou dona do hotel Foster's – coloquei uma mecha solta do rabo de cavalo para trás da orelha.
– Ah! – fez olhando para o irmão e então sorriu. – Fiquei sabendo que está ciente do problema do meu irmão...
– Estou, desculpe por me intrometer tão de repente.
– O problema não é esse – disse passando a mão pelos cabelos loiros. – Apenas... Ninguém deve ficar sabendo disso, nem minha mãe sabe disso... Apenas guarde esse segredo, ok? Essa é a minha maior preocupação referente a você.
– Alena...
– Tudo bem – sorri para James –, ninguém saberá disso por mim.
– Cath é de confiança – disse ele.
– Bem, vejo que já está sendo bem cuidado.
– Alena, eu preciso te falar algo. – Ela se virou para James cruzando os braços, ela era mais baixa do que ele e um pouco mais alta que eu. – Decidi começar meu tratamento e como preciso recuperar as memórias, vou para a Noruega na sexta-feira.
– Noruega? – disse deixando os braços cair. – Vai ver o papai?
– Não sei... Talvez eu tenha, já que deve ter muitas memórias lá.
Ela suspirou.
– Vou dizer a mamãe que você foi para outro lugar. Ela morreria de desgosto se soubesse – então se virou para mim. – Vai com ele?
Sorri um pouco.
– Está tão óbvio assim?
Ela sorriu para mim.
– Na verdade, tenho muito trabalho atrasado e ficaria doida se ele fosse sozinho. Fico satisfeita com isso, Srta. Foster, obrigada. Vou deixar minha agenda com anotações importantes sobre as personalidades para você – então se virou. – Estou indo. Coma a acerola.
Me virei para ele quando ela saiu.
– Nossa que ótimo, vai me poupar muito como fonte de dados. Estou fazendo observações sobre você, sabe.
– Sou o rato de laboratório de mais um? Oh céus!
Ri dando a volta no balcão e colocando os braços sobre seus ombros.
– Não posso fazer nada se você é tão interessante. E isso pode nos ajudar como um quebra cabeça para descobrirmos seu passado.
– Acho que Sherlock Holmes possuiu você – comentou.
– Então acho que estou fazendo errado, porque sr. Holmes não se envolvia emocionalmente com seus casos – sorri lhe dando um beijo rápido nos lábios. – E ainda não me disse o que quer comer. Acerola?
– Ás vezes acho que a Alena me odeia. Quem come acerola?
– Qual o problema com as acerolas? Não são ruins.
– Não são boas também – resmungou. – Quero suco, talvez desça melhor.
– Ok, depois de comer esteja pronto para sua entrevista – disse pegando a sacola de acerolas.
– Entrevista?
Minutos depois, estávamos na sala sentados em um dos sofás, eu em um canto com o caderno apoiado na perna e ele no outro.
– Ok – comecei. – Há algo sobre isso que se incomoda em falar?
– Sobre o DID? Sobre o problema em si não...
– Sobre você.
– Depende. O que quer dizer com incomodar?
– Que não gostaria de comentar ou te constrange.
– Sobre mim não há nada – respondeu.
– Ok. Agora, quantas personalidades você sabe que existem?
– Quatro. Uma delas só aparece sob hipnose, é uma criança.
– Então, Jasper, Eric, Franz e essa criança?
– Isso. Que eu tenha ciência são esses.
– A criança tem nome? – perguntei anotando no caderno.
– Nunca disse.
– Tudo bem... – ergui os olhos para ele de novo. – Existe alguma razão em especial para que elas apareçam? Por exemplo, se você machuca algum deles aparece ou algo assim?
– Elas são ligadas diretamente a emoções, apesar de o doutor não ter identificado a qual emoção Franz está ligado. Eric aparece quando envolve violência ou algo relacionado às memórias perdidas, pois ele é o meu bloqueio. Já Jasper aparece quando estou sob tensão ou ansioso demais.
– Entendo – ela colocou coloquei a ponta da caneta contra a boca, pensativa. – Além dessas ocasiões, existe algum momento certo para surgirem ou podem simplesmente aparecer no meio de... sei lá, estar bebendo um café e na metade você já é outra pessoa?
– Não são ocasiões – respondeu ele sorrindo, se ajeitando. – Todos nós somos emoções, não importa o momento. Se eu estiver tomando café e pensando em algo que me aflige, Jasper poderia aparecer.
– Sei... Então pode ser a qualquer hora? Assim, do nada? – perguntei um pouco aflita.
– Vai variar com o que estou pensando. Mas eu tomo remédios que amenizam isso.
– Aham... Isso é um problema, sabe? – apontei a caneta para ele com as sobrancelhas juntas. – E se nós estivermos juntos e... – desviei os olhos quando senti as bochechas esquentarem – bem, um deles pode aparecer no meio do caminho?
– Ou não – disse ele. – Não vejo porque minha mente ficaria aflita ou qualquer coisa do gênero com você. Mas não vou descartar a hipótese. Se achar que é uma situação ruim você ainda pode desistir de mim. Não quero te forçar a passar por alguma experiência desagradável.
Curvei as sobrancelhas para cima.
– Não fale assim, não vou desistir de você tão facilmente, ainda mais por uma hipótese dessas – apesar de ainda me sentir insegura. E se Eric aparecesse bem no meio do... – Esqueça isso – disse quase para mim mesma –, vamos continuar. Quanto tempo cada um deles consegue ficar?
– Não tem um prazo certo, mas não costuma chegar a um dia. Eric normalmente fica mais.
– Mais quanto? Dessa última vez foram 24h?
– Sua pergunta não tem como ser respondida – disse rindo. – Eles ficam quanto tempo eles quiserem. Às vezes consigo voltar como se estivesse sonhando sem conseguir acordar, às vezes eu sinto que sou empurrado para o sono novamente, entende?
– Já conseguiu estar meio consciente durante uma troca? Como ver o que o outro está fazendo?
– Nunca.
– Entendi, ok. Agora perguntas específicas, eles têm a mesma idade que você?
– Não. Eric é um ano mais novo, Jasper tem dezesseis e Franz tem trinta.
– Por que tão diferentes?
– Não sei... – inclinou a cabeça.
– Ok. Vamos começar com Jasper. Características fundamentais, quais são? Ele é meio triste, não?
Ele riu de novo.
– Acho que vou ligar para o doutor. Ele tem uma ficha sobre cada um deles.
– Será útil realmente, mas quero saber o que você sabe.
– Tudo que eu sei veio das fichas dele. Ele já teve a sorte de conversar com todos.
– Hmm... Ok. Vou conseguir os dados deles com sua irmã e seu médico. Mas uma coisa que ela disse me deixou intrigada, sua mãe não sabe sobre você?
– Não – disse sério. – Minha irmã não sabe como ela poderia reagir.
– Mas ela convive tão pouco com vocês? Desde quando sabe que tem DID?
– Desde que vim pra cá. Alena percebeu algo errado primeiro e então procurou o doutor. Foi aí que ele identificou o problema.
– E isso foi na sua juventude?
– Quando vim para cá, com treze. Antes disso não me lembro de nada.
– Então, como? Acho que uma mãe perceberia se seu filho tivesse... – me interrompi. Não sabia nada sobre a mãe dele ou o relacionamento dos dois, não tinha o direito de opinar. – Desculpe, não quero julgar, apesar de já estar fazendo isso, é só que... me parece negligência.
– Minha mãe... Ela não gosta tanto de mim. Ficou feliz por eu ter vindo, mas... A Alena é mais minha mãe que irmã.
– Não gosta? – soltei o ar, incrédula. – Tudo bem, não vamos falar mais dela. Bem – coloquei o caderno de lado –, então acho que acabamos. – olhei no relógio do celular – E já que não vou trabalhar, temos o dia todo.
– Ah. Tem que me recompensar por esse interrogatório, doutora Cath.
– Recompensar? – sorri encolhendo os ombros.
– Sim. Fui um bom garoto respondendo às suas perguntas. Mereço uma recompensa, não?
Mordi os lábios segurando um riso.
– Isso depende do que vai querer.
– Isso significa que posso escolher?
– Talvez seja uma opção perigosa, mas pode.
– Hmm – fez ele pensando. – Uma recompensa a longo ou curto prazo?
– Não tem que ser uma recompensa muito grande! – ri. – Nem foi tanto esforço.
– Claro que foi! – disse me olhando descrente, como uma criança que exige merecer o maior pedaço de chocolate. – Tudo isso é muito particular.
– Own – fiz e me coloquei sobre os joelhos engatinhando pelo sofá até alcança-lo, coloquei os braços a sua volta deslizando os lábios pela linha de seu maxilar. – Desculpe ser tão intrometida. O que vai querer?
– Você – respondeu se virando e tomando meus lábios. Trocamos um beijo molhado e cheio de desejo que fez minha pele se arrepiar e meus batimentos acelerarem, mas que também foi rápido demais. – Mas não a curto prazo. Eu quero você a longo prazo. Um prazo que não tenha validade...
Passei as pernas para frente me sentando sobre as suas e sussurrando contra sua boca.
– Você pode me ter por quanto tempo quiser, só tem que ser meu também.
– Aceito sua condição – disse com um sorriso, seus dedos entrando por minha nuca e se afundando em meu cabelo enquanto me puxava para outro beijo.
Nossas línguas se encontraram e não consegui evitar suspirar, descobri, então, que estava mais suscetível que o normal, mas não sabia porquê, só sabia que queria James por inteiro. Enfiei os dedos por seu cabelo o beijando com urgência enquanto suas mãos desciam pelas linhas de meu corpo até alcançarem a barra de minha regata, então deslizaram para dentro dela fazendo o percurso inverso e levando o tecido junto. Me separei dele para que puxasse a peça de meu corpo e voltei aos seus lábios. Suas mãos desceram de novo, dessa vez brincando com o cós de minha calça e quando nos faltou o ar e fomos forçados a parar o beijo, ele me segurou pelo quadril e me deitou sobre as almofadas do sofá se colocando entre minhas pernas.
Ele baixou os lábios para meu pescoço mordendo minha pele de leve e suspirei subindo as mãos por seus braços, alcançando suas costas. Meus dedos encontraram o tecido de sus regata e eu a puxei de seu corpo fazendo-o se afastar para tirá-la. Joguei a roupa em um lugar qualquer e ele voltou para minha boca enquanto suas mãos desciam para meu jeans e ele abria botão por botão sem se afastar de mim; quando acabou de baixar meu zíper, senti suas mãos voltarem para minha cintura e erguerem meu quadril para então deslizarem calça a dentro passando pouco gentis por meus glúteos e coxas. Gemi contra sua boca e ele se afastou para puxar minha calça das pernas e jogá-la por cima do ombro. Ele se colocou no meio e minhas pernas de novo e puxou minhas coxas contra si fazendo nossos quadris se encontrarem. Gemi mordendo os lábios, estávamos a poucas camadas de tecido de distância e eu estava ficando ansiosa.
Ele desceu os lábios para o meio de meus seios enquanto seus polegares se enfiavam sob o elástico de minha calcinha e a empurravam para baixo em uma lentidão torturante. Enfiei as mãos por seus cabelos quando sua língua tocou a pele sob a renda do sutiã e virei a cabeça no sofá observando a sala. Estávamos na sala, oh céus, a irmã dele poderia chegar a qualquer momento, entrando sem nem mesmo bater. Soltei uma risada involuntária sentindo a expectativa aumentar e minha pele se arrepiar com ideia de que alguém podia nos pegar. Então ele se afastou de novo e jogou minha calcinha para longe. O puxei para mim pelos ombros e suspirei contra sua boca descendo uma mão por seu peito e tórax então alcançando seu quadril e invadindo sua calça. Ele gemeu baixinho passando os lábios molhados em meu rosto.
Ele me ajudou com meu trabalho acompanhando minha mão, então se colocou mais para frente abrindo mais minhas pernas, desceu os lábios para os meus novamente e então me penetrou. Gemi sentindo-o se afundar, vendo a sala girar, e quando ele estava focado de novo começou a se mover no ritmo de nossas respirações. Segurei suas mechas loiras entre os dedos enquanto arfava em seu ouvido e ele marcava meu pescoço com beijos que ardiam sob seus lábios úmidos. Enlacei as pernas ao seu redor acompanhando seus movimentos e controlando sua velocidade, fazendo-o ir mais rápido e às vezes mais lento e profundo.
Continuamos enquanto suas mãos exploravam meu corpo livremente e ele começava a gemer mais alto. Então ele passou um braço sob meu quadril e me posicionou de forma mais vulnerável; agarrei as laterais do sofá quando ele foi fundo, me fazendo arfar alto. Então suas mãos seguraram meus quadris e ele passou a me mover à sua vontade. Estava perdendo a capacidade de raciocinar quando ele alcançou minha boca outra vez e seus dedos se afundaram em minha pele indelicados. Chegamos ao ápice, gemi contra sua boca baixando o volume a medida que a onda de prazer me deixava e ele respirava fundo contra minha pele.
Nos separamos e ele se deitou ao meu lado me abraçando pela cintura. Um sorriso involuntário entreabriu meus lábios e olhei em volta outra vez. Me lembrei que a irmã dele realmente poderia entrar pela porta e nos ver ali daquele jeito.
Toquei o braço de James fazendo ele abrir os olhos.
– Hey – sorri –, temos que sair daqui.
~
Passamos o restante da semana fazendo os preparativos da viagem. Avisei Angela que ficaria fora por tempo indeterminado e recebi um sorriso insinuativo como reposta, que tive que fingir não ver, diante das circunstâncias eu nem podia me defender. Então sexta finamente chegou e pegamos o avião das 9h direto para Tromso, no estado de Troms, acima do círculo ártico, sem escalas; era por volta de três horas de voo e eu não precisei de 20 minutos para encostar no ombro de James e dormir até o momento em que ele me acordou e estávamos pousando em um lugar onde as pessoas falavam um idioma estranho.
Saímos do aeroporto sem demora e do lado de fora estava tudo escuro como se estivéssemos perto das 9h da noite, o que era absurdo, já que tínhamos saído às 9 de Zurique e o voo era rápido. Será que tínhamos parado ou feito um desvio e eu dormi por tanto tempo? Olhei em volta estreitando os olhos.
– Saímos cedo... Por que já é noite? Demoramos tanto?
Ele riu.
– É meio dia, na verdade. Está com fome?
– Sim... Ah! Aqui é um daqueles lugares que ficam meses de noite? E você é daqui?
– Nasci aqui, mas não lembro nada. Apenas desse aeroporto na verdade, que foi onde Alena veio me buscar. O que quer comer?
– Vamos experimentar a comida local. Então não sabe onde é casa de seu pai ou onde morou?
– Sei onde fica, mas não o vi antes de partir então não me lembro dele. Eu almocei em um restaurante aqui perto quando Alena veio, vamos comer lá.
– Ok – fomos na direção dos táxis. – E sabe falar a língua? Por que eu não entendo nada do que vocês escandinavos falam.
– Selvfølgelig vet jeg, vakker dame – disse sorrindo.
Ri mordendo os lábios.
– Ahh nossa, o que significa?
– Que eu sei falar sim – riu. – É minha língua natal, claro que sei.
Entramos no táxi depois de colocar as malas no porta-malas.
– Isso é muito charmoso, sabe.
– O quê? Falar norueguês?
– Sim, línguas que não conheço sempre me parecem charmosas, a maioria delas – lhe sorri.
– Isso significa que ganhei pontos positivos? – disse sorrindo e deu a direção do hotel para o taxista.
– Talvez – ri entretida. – Em que hotel vamos ficar? É perto?
Ele assentiu e poucos minutos depois chegamos ao hotel, um pequeno prédio de 8 andares com um aconchegante piso laminado e sofás macios.
– Não tenho uma unidade do Foster's em toda Noruega – eu disse olhando a decoração ao redor enquanto íamos para o elevador. – Talvez devesse pensar no assunto.
– Concordo. Agora teremos que ficar nesse hotel mesmo – se lamentou dramático, então sorriu.
– O que vamos fazer depois de comer?
– Quer tratar logo de negócios ou vamos nos divertir um pouco? Podemos dar uma volta sem compromisso pela cidade ou ir direto para a mansão.
– O que você acha? Se sente pronto para ir? Tenho certeza que Eric vai aparecer, então poderíamos nos acostumar com o ar do norte antes de ir.
Ele pegou algo na mala.
– Me faça engolir um comprimido desse frasco – disse me entregando um frasco azul – se acaso eu parecer estranho, ok?
Peguei o frasco dando uma olhada.
– O que é isso? Pílula suicida caso te capturem?
– Não – respondeu rindo. – É apenas Lorazepam, um dos medicamentos controlados que eu tomo. Ah, mais uma coisa, se o Franz aparecer, finja que não me conhece e fique em outra suíte, ok?
Sorri guardando o frasco em minha pequena bolsa.
– Não acha que ele acharia no mínimo curioso acordar na Noruega e coincidentemente encontrar aquela suíça do rio Limmat?
Saímos do elevador e fomos para o quarto no final do corredor.
– Conheceu ele no rio... Mas ele é um predador assustador – comentou em voz baixa. – Apenas fuja dele, é sério.
– Tudo bem – destranquei a porta passando por ela e colocando as malas sobre uma cadeira. – Devo te dar a pílula quando se tornar algum dos dois?
– Deve me dar antes – disse largando as malas sobre a cama e abrindo as portas do guarda roupa.
– Ok. Então, aos negócios ou à noitada eterna? – indaguei divertida.
– É nossa primeira viagem juntos... – começou ajeitando as coisas no guarda roupa de forma rápida e organizada. – Uma noitada eterna não me soa nada mal, principalmente com a companhia que tenho – disse se virando para me olhar.
Mordi os lábios entrelaçando os dedos nas costas e indo até ele.
– O que podemos fazer nessa cidade escura a essa hora da tarde? – perguntei chegando perto o suficiente para ter de levantar o rosto para olha-lo; ele era agradavelmente alto.
Ele aproximou nossos rostos.
– Está me provocando, senhorita?
– Talvez – meu sorriso aumentou, flertar com James era sempre muito divertido. – Está funcionando?
Ele passou por meus lábios e mordiscou minha orelha, soltando o ar.
– Sou fraco a você.
Subi os dedos por dentro de seu cabelo virando o rosto e tomando seu lábios, saboreando sua boca enquanto sentia o desejo me subir pelas pernas, mas nos separei com um sorriso travesso.
– Quero que me mostre a cidade antes e me leve para jantar.
– Vamos começar pela cidade então – disse contra meus lábios, e então se afastou com um sorriso. – Quer tomar um banho antes?
– Quero – puxei o cachecol do pescoço e a cacharréu do corpo, ficando só de lingerie. – Me espere aqui – dei um beijo rápido em sua boca entreaberta e fui para o banheiro.
Quando voltei, minutos depois, ele estava cochilado de leve na poltrona ao pé da cama, o rosto sereno sob as mechas cor de areia. Fui até ele e me curvei a altura de seu rosto.
– Jamie? – o chamei então aproximei os lábios de seu ouvido. – Ainda é muito cedo para dormir, por incrível que pareça – sussurrei com um sorriso.
Ele piscou então fechou os olhos, abrindo apenas um deles e deu um meio sorriso.
– Desculpe.
Coloquei o cabelo para trás da orelha arrumando a postura.
– Tudo bem. Vai tomar banho?
– Vou – disse se levantando e indo para o banheiro.
– Quer que pegue sua roupa?
– Não precisa – e encostou a porta.
Me sentei na poltrona e peguei o celular pesquisando sobre que tipo de atrações poderíamos ver em Tromso; descobri duas catedrais, museus e shoppings, mas o que mais falavam era sobre as auroras boreais, me lembrei que nunca vira uma na vida e aquela deveria ser uma experiência e tanto. Me distraí por mais algum tempo e James não demorou para sair do banheiro com apenas uma toalha na cintura e os cabelos molhados em volta do rosto indo na direção do guarda roupa, o abrindo. Levantei os olhos para ele sem levantar o rosto, só o observando enquanto escolhia algumas peças de roupa e as separava sobre a cama. Ele tinha as costas largas e bem desenhadas que se estreitavam na descida da cintura. Observei um pouco mais então me levantei indo até ele e colocando as mãos em sua cintura enquanto mordiscava suas omoplatas.
– Jamie – me queixei –, se me provocar muito mais não vou mais querer sair.
– O quê? Mas não estou fazendo nada... – disse se virando com um sorriso travesso.
Ri, o abraçando pelo pescoço.
– Vamos logo, antes que eu decida que você será meu jantar.
Ele segurou minha cintura me beijando nos lábios enquanto eu sentia as formas de seu corpo sobre a roupa, a pele ainda quente do banho. Me senti arrepiar, tinha certeza que se ele me jogasse naquela cama, eu me esqueceria que havia uma cidade lá fora.
– Não vejo problema nenhum nisso – murmurou contra minha boca.
– Eu sei que não vê – curvei as sobrancelhas para cima enrugando os lábios, resistindo –, mas quero conhecer a cidade.
– Então... – disse me afastando. – Me deixe vestir uma roupa.
Ri tirando os braços de sua volta.
– Ok, desculpe.
Ele deixou a toalha cair e vestiu as roupas de baixo.
– Que péssimo guia, nascido aqui, mas sem saber levar sua garota para nenhum lugar em especial.
Levantei os olhos distraídos para os seus.
– Ah, não se preocupe, estava pesquisando isso agora, tem a catedral do Ártico e a de Tromso que eu gostaria de ver.
Ele terminou de se vestir, colocando um elegante casaco cor de café e um cachecol verde folha.
– Onde vai querer ir primeiro? Passei minha bolsa pequena pela cabeça e peguei as chaves do quarto.
– Pode ser a do Ártico? E Ahh... – esperei que ele saísse para fechar a porta. – Você já viu uma aurora boreal?
– Claro, você manda – disse ele e entramos no elevador. – Não me lembro. Talvez já tenha visto mas... Não me lembro – enfiou as mãos nos bolsos.
– Oh, tudo bem – passei as mãos por um de seus braços, me abraçando a ele. – Queria ver uma antes de ir.
– Podemos ver várias, vamos passar uma semana aqui – disse beijando o topo de minha cabeça.
– Espero que sim – sorri encostando a cabeça em seu ombro.
Começamos pela catedral do ártico, quando chegamos ela estava cheia, então só demos uma olhada por dentro e apreciamos a linda arquitetura moderna. Depois fomos para catedral de Tromso, lá estava vazio, entramos e depois de olharmos os detalhes do altar, nos sentamos em um dos bancos de madeira lustrada.
Eu estava olhando as pinturas no teto quando o vi baixar a cabeça, os cabelos caindo no rosto.
– James?
– É religiosa? – perguntou ele jogando os cabelos para trás.
– Não... – eu disse um pouco receosa, não sabia se ainda era ele mesmo.
– Eu também não. Não sei se eu era antes...
– Hey – peguei seu queixo virando seu rosto para que me olhasse. – ... James?
– Hmm...? – fez com as bochechas comprimidas.
O fitei um instante então peguei o frasco azul na bolsa.
– Está agindo estranho – lhe estendi uma pílula. – Tome isso.
Ele riu.
– Eu não estou me sentindo bem aqui... Essa igreja... – disse pegando a pílula. – Essa...
Abaixou a cabeça de novo, levando a mão ao rosto e deixou a pílula cair.
– James! – me virei no banco o segurando pelos ombros.
Ele levantou o rosto.
– Estamos na Noruega? – disse chocado e olhou ao redor, depois se voltou para mim.
– Ah, droga. Eric?
Ele se desvencilhou de mim e respirou fundo, olhou ao redor de novo, segurando o rosto, parecendo aflito.
– Por que estamos aqui?
– Eric – me aproximei devagar tocando suas costas –, James precisa entender o passado e as memórias estão aqui.
Ele riu sem humor.
– Ele não precisa entender nada – disse. – Ele não vai aguentar... – então a voz morreu e ele pareceu pensar em algo.
– Como pode ter tanta certeza? Ele precisa saber o que aconteceu e isso vai ajudar todos vocês, independente da dor.
– Claro – disse sorrindo e olhou em volta mais uma vez, então seu olhar parou no altar e ele ficou em silêncio, o sorriso sumindo.
Acompanhei seu olhar.
– O que houve? Está vendo algo?
– Sim. Minha irmã rezando – então se levantou. – Vou embora desse lugar.
Me levantei indo atrás dele.
– Sua irmã? – então estávamos fora da igreja. – Alena?
– Catherine está a passeio com James na Noruega – disse dando uma risada que soava irritada, parando nos degraus. – Estavam se divertindo? Escolhendo a igreja para casar?
Juntei as sobrancelhas com os lábios entreabertos, não era a primeira vez que ele soava como se estivesse com ciúmes, mas aquilo era estupidez.
– O quê? Eric, não mude de assunto, o que você viu lá dentro?
– É meu passado – disse arrancando o cachecol o jogando no chão, irritado. – Não importa o que eu vi!
– Por que você não me deixa te ajudar?! – gritei irritada, então encolhi os ombros sentindo os olhos ficarem marejados e falei com a voz baixa, quase murmurando. Ele me deixava tão irritada. – Que droga, Eric, porque você tem que ser assim?
Ele abriu a boca surpreso então a fechou.
– Como posso confiar em você?
– Por que ao menos não tenta?
– Vai contar para James. Confia mais nele. Quer mais ele. Não é assim?
– Do que está falando? Não estamos em uma disputa, Eric.
– Eu estou – respondeu. – Uma disputa para viver. Isso é importante para mim, entende?
– E como espera fazer isso? Acha que se James nunca se lembrar vai acabar tomando o controle para sempre? Isso é sequer possível?
– Eu posso tomar o controle para sempre, não duvide – retrucou. Então desceu mais dois degraus, parando para olhar para o céu.
– Eric... – desci os degraus o alcançando e ergui os olhos para onde ele estava olhando.
Ele voltou o rosto para mim, parecendo distante. Nossos olhos se encontraram.
– O que foi?
– Você me chamou – disse apenas. Então enfiou as mãos nos bolsos, começando a caminhar.
– Aonde você vai? – peguei o cachecol do chão e corri atrás dele. – Não pode andar por aí sozinho.
– Por que não? – indagou dando um sorriso divertido.
– Porque não conhecemos a cidade – disse olhando ao redor e passando as mãos ao redor de seu cotovelo. – E não quero ficar sozinha.
Ele estava corado quando voltei a olha-lo, então ele desviou os olhos para frente.
– Podemos fazer um acordo?
– Que acordo?
– Tudo o que conversarmos deve ficar entre nós – disse ele. – Considere esse o primeiro passo para conquistar minha confiança.
– Tudo bem – baixei o rosto deixando um pequeno sorriso escapar, ele estava tentando, afinal. Me voltei para ele – Podemos comer agora? Estou com fome...
– Certo – disse. – Conheço um bom restaurante.
– Conhece? O que mais você conhece aqui?
– Alguns lugares – respondeu.
Dei um sorriso interessada.
– Pode me mostrar?
– Hmm... Posso – disse.
– Que bom – sorri.
Chegamos a um restaurante pequeno e agradável, perto de um lago e mesas pequenas nas varandas, graças a arquitetura antiga pareia o prédio de um velho hotel. Nos sentamos em uma das mesas da varanda iluminadas por luminárias de papel.
– Está proibida de trazer James aqui – disse ele.
– Por quê? – perguntei tentando segurar um sorriso, ele parecia uma criança rabugenta.
– Porque isso também deve ficar entre nós – disse pedindo o prato em norueguês e se virou para mim. – Vai querer esse? É um bom cozido de peixe.
– Ah, sim, obrigada.
Ele se voltou para o garçom, concluindo o pedido, depois olhou para escuridão que era a paisagem do lago, os olhos distantes.
– Se lembra bem daqui? – lhe perguntei.
– Sim – disse. – Mais do que eu gostaria.
– Se lembra da sua infância?
– Não sou o James. Lembro perfeitamente de tudo – retrucou.
Sorri olhando o menu distraída, ele era mesmo uma criança rabugenta.
– Claro que não é... – então juntei as sobrancelhas e descartei o menu logo em seguida, estava todo em norueguês. – E como foi? Era feliz aqui?
– Não. Não tenho nenhuma lembrança feliz daqui.
– Por causa... de seu pai?
Ele socou a mesa me assustando, a expressão irritada, então corou e cobriu o rosto.
– Não vamos falar disso. Por favor.
– Ok... – tirei o próprio cachecol e o guardei, sentindo calor. Precisaria de algo um pouco mais forte que cozido de peixe para passar aquela noite com Eric Manson.
– Sabe falar norueguês? – perguntou de repente.
Lhe sorri.
– Não entendo sequer as letras.
– Sério? – indagou e riu. – Então é você quem não pode sair por aí sozinha.
– Não posso – concordei colocando o cotovelo sobre a mesa e apoiando o rosto na mão com um sorriso –, e espero que meu guia não me abandone.
– James era seu guia? – riu de novo. – Péssima escolha.
– Ele pelo menos entende o que está escrito nas placas.
– Mas não conhece a própria cidade – disse e passou a mão nos cabelos parecendo incomodado. – Tem um elástico?
– Íamos conhecê-la juntos – disse vasculhando a bolsa, então puxei um elástico preto e dentro dela. – Mas aí, você apareceu – lhe estendi o elástico entre os dedos médio e indicador.
Ele o pegou prendendo o cabelo.
– Não vai me convencer a ir com essas palavras, não estou preocupado por ter atrapalhado seu passeio romântico.
– Eu não disse que está atrapalhando, só que não estava nos planos – sorri e estiquei a mão pegando a ponta de uma de suas mechas soltas da frente entre os dedos. – Gosto do seu cabelo, por que prefere prendê-lo?
– Odeio esse cabelo. Deveria corta-lo – disse e eu lhe diria o quanto aquilo era ultrajante, mas o garçom chegou com os pratos.
Sorri para o rapaz e quando ele se foi, estreitei os olhos para Eric.
– Você não ouse.
– Por quê? Ele é irritante e incomoda – respondeu.
– Ele é lindo – apontei a colher para ele –, até você com esse seu gênio horroroso fica lindo com ele – e provei do peixe.
– Gênio horroroso? – disse pegando a colher. – Gosta de cabelos assim?
Sorri.
– Isso é um pouco subjetivo, na verdade. Apenas gosto de cabelos, ponto. Ia gostar se o seu fosse curto também, mas mantenha ele assim.
Ele suspirou e tomou a sopa.
Terminamos o jantar, então voltamos para o hotel. Antes de subir fiz questão de pedir uma garrafa de vinho para um atendente.
– Aqui fazem bons vinhos? – perguntei quando estávamos no elevador.
– Sim – disse com as mãos nos bolsos.
Ergui uma sobrancelha.
– Em um lugar tão frio desses? Ok... Só acho que você está dando respostas práticas.
Ele me olhou de canto e seu rosto ganhou um tom vermelho.
Minha expressão mudou, estava tendo febre?
– O que foi? Está se sentido mal?
– N-não – disse virando o rosto para olhar a porta do elevador que se abriu.
– Ok, vamos – fomos até a porta no final do corredor e a abriu lhe dando passagem. – Bienvenue.
Ele entrou e parou um momento olhando a cama de casal, então se virou para mim, apontando o móvel.
– Só tem uma cama. Tenho que pedir outro quarto...
Fechei a porta e me virei olhando para cama. Ele não podia estar falando sério.
– Pelo amor de deus, Eric, é só uma cama, não vou encostar em você se não quiser. Além do mais, somos um casal, mesmo que seja só com o seu corpo nesse momento – sorri tirando o casaco.
– Hmm, na verdade eu não me importo. Estava dizendo isso por você... – e se virou tirando o próprio.
– Por mim? Que atencioso – sorri –, mas não é necessário – então bateram na porta e abri pegando a garrafa de vinho e me voltando para ele. – Como se diz obrigado?
– Takk. – disse
Repeti para o rapaz e lhe entreguei uma nota de euro, então fechei a porta de novo erguendo a garrafa.
– Aceita?
– Claro – disse se sentando na poltrona.
Peguei duas taças no balcão do quarto e as enchi até a boca, levei um copo para ele e me sentei na beira da cama ao seu lado degustando de meu próprio copo.
– Hmm – fiz. – Estava certo, são realmente bons.
– Não é estranho para você? – perguntou bebendo um longo gole. – Estar em um quarto com um cara que não conhece?
Ri com o copo já na metade, já começando a sentir o rosto esquentar.
– Não é minha primeira vez, sabe? E não considero você um completo estranho, é um amigo mal humorado.
Ele ergueu uma sobrancelha com um meio sorriso e bebeu o resto do vinho.
– Gosto de você – disse.
Me levantei e peguei a garrafa enchendo a taça outra vez.
– Também gosto de você, Eric, é divertido no final das contas – estendi a garrafa para ele. – Mais?
– Por favor.
Enchi seu copo e coloquei a garrafa no chão.
– Como se vive em um lugar que não tem sol por tanto tempo? Vocês não sentem falta da luz natural?
– Não gosto desse período do ano, me faz pensar em tudo que aconteceu.
– Aconteceram no inverno? – e acabei com outra taça. – Acho que você se tortura um pouco... Tem que tentar viver o presente.
– Eu vivo o presente, mas nasci do passado. E não pude fazer nada...
Fiz silêncio por um momento.
– Algumas coisas não estão ao nosso alcance – sorri. –, então temos de nos focar no que está – e levantei a garrafa ao lado do rosto –, como essa garrafa de vinho – enchi meu próprio copo e virei o restante da garrafa no dele, que acabou antes de chegar ao topo. – Acabou – soltei um muxoxo.
Ele riu bebendo o resto de uma só vez.
– Quero me focar em você.
– Em mim? – ri me sentindo alta. – Acha que estou ao seu alcance?
– Está dizendo que não?
– Depende do que você quer dizer com "estar ao alcance".
– Pense. Uma garota linda me permite ficar em seu quarto, dormir na sua cama e tomar vinho com ela. O que eu devo fazer?
Ri terminando o copo, visto por aquele ângulo parecia muito promíscuo. Me deitei na cama abrindo os braços, esperava que estar zonza agora não me desse dor de cabeça depois.
– Eu não sei, o que deve fazer? – perguntei cínica, me sentia inclinada a brincar com Eric.
– Você... – e riu. – Queria que você fosse minha e não dele... Está me enlouquecendo aos poucos...
Aquilo me atingiu no íntimo, por um momento eu quis que ele fosse louco por mim, quis que me desejasse, então me lembrei de como ele sempre parecia ciumento e irritado em relação ao meu relacionamento com James, se ele realmente gostava de mim, aquilo era mal. Mal por ele não ser a mesma pessoa, ainda que fosse, e aquilo me deixar confusa sobre infidelidade e mal principalmente porque eu não sabia até que ponto eu considerava aquilo ruim.
– Eric, está indo por um caminho perigoso... – lhe avisei quase ouvindo a hipocrisia em minha voz.
Ele se levantou da poltrona e se sentou ao meu lado na cama, então desceu as pontas dos dedos pelo desenho de meu maxilar, seguindo pelo pescoço, fazendo a pele sob seu toque ficar mil vezes mais sensível. Se inclinou para mim e soltou o ar pela boca.
– Gosto do perigo – murmurou.
Suspirei e baixei os olhos para sua boca, me ocorreu se, apesar de ter os mesmos belos lábios de James, ele teria o mesmo sabor.
– Não acho que... – disse sem terminar, não era uma boa ideia, mas não queria terminar.
Ele deixou os dedos correrem para dentro de meus cabelos e se afundarem ali, então se inclinou mais e alcançou meus lábios. Meus batimentos aceleraram e meus dedos formigaram com vontade de se enroscar nas mechas sedosas dele. Minha boca se entreabriu em um impulso sob a dele e o mínimo toque de nossas línguas me fez suspirar, mas ele já se afastava e senti meus lábios formigarem sentindo sua falta. Ele se manteve perto o suficiente para que nossas bocas ainda se roçassem e quando abri os olhos ele me observava.
Demorei um segundo para ter uma reação, para uma voz gritar na minha cabeça "O que está fazendo, Catherine?! E James?", então me afastei me puxando para trás.
– Não, Eric! Eu e James... Nós...
Ele riu, mas parecia triste.
– Eu já sei o que vai dizer... Mas esse beijo não foi para provocar o James – disse ficando de pé –, foi porque eu me apaixonei por você – então abriu a porta e saiu.
Me encolhi e abracei os joelhos. Que droga, um triângulo amoroso era a última coisa que precisava naquela hora! Então escondi o rosto. E tudo ficava pior quando eu sabia que já começava a me sentir diferente por ele também.